2005/04/09
A propósito do unanimismo dos media
Após uma aturada discussão com o co-camarão Marujo, decidi concluir o raciocínio iniciado no post anterior, desta vez incidindo directamente sobre o porquê deste unanimismo mediático em torno do Papa. Para tal acho que será importante recorrer à sociologia da comunicação, abordando de forma muito superficial a forma como a produção de notícias tem sido vista ao longo dos tempos. Desde já aconselho a quem quiser a leitura destes dois livros sobre o tema: Os jornalistas e as notícias; O discurso do jornal.
Aquando do aparecimento dos primeiros jornais comerciais no século XIX, os jornalistas da altura afirmavam que a imprensa era o espelho do mundo. Com isto pretendiam dizer que aquilo que se escrevia nos jornais era por e simplesmente o reflexo do que acontecia na realidade e nada mais. No entanto, rapidamente se tornou claro a quem se debruçava sobre este assunto que esta relação não era tão linear como queriam que fosse.
Alguns anos mais tarde, já no século XX, os primeiros teóricos das ciências da comunicação criaram o conceito de gatekeeping, como forma de explicar o que tinham observado nas redacções. Na opinião destes académicos o jornalista funcionava como uma espécie de guarda do portão, que apenas deixava passar para o jornal a informação que lhe interessa.
No entanto, mais uma vez se percebeu que este tipo de explicação simplista não permitia entender a complexidade que envolve a produção de notícias. Surgiu então, já na segunda metade do século XX, o conceito de newsmaking, segundo o qual a produção de uma notícia envolve uma série de factores, que todos juntos, influenciam o produto final. Entre estes factores contam-se as questões logísticas e burocráticas, a lógica organizacional, a falta de tempo, a necessidade de tornar a notícia vendível e, principalmente, o quadro de referências e de valores do próprio jornalista, que naturalmente influenciam a forma como este interpreta a realidade.
Estes factores, especialmente o factor tempo, que tem vindo a impôr-se aos outros devido à lógica dos directos e da informação ao minuto, têm como consequência que na maior parte das vezes os jornalistas não conseguem dispensar às notícias que escrevem, o tempo e a reflexão necessárias à produção de boas notícias. Esta falta de tempo leva-os a recorrer em demasia à informação de agências noticiosas e de organismos oficiais e a confiar em fontes cujas motivações são por vezes pouco correctas.
Daí que no momento em que toda a gente diz bem do Papa seja mais fácil simplesmente entrar na onda e reproduzir as mesmas ideias e as mesmas palavras, chamar os comentadores que já se sabe que aparecem de bom grado e não fazer muitas ondas, o que obrigaria a puxar pela cabeça numa altura em que não há tempo para tal, tal é a torrente de acontecimentos que supostamente é preciso cobrir.
Aquando do aparecimento dos primeiros jornais comerciais no século XIX, os jornalistas da altura afirmavam que a imprensa era o espelho do mundo. Com isto pretendiam dizer que aquilo que se escrevia nos jornais era por e simplesmente o reflexo do que acontecia na realidade e nada mais. No entanto, rapidamente se tornou claro a quem se debruçava sobre este assunto que esta relação não era tão linear como queriam que fosse.
Alguns anos mais tarde, já no século XX, os primeiros teóricos das ciências da comunicação criaram o conceito de gatekeeping, como forma de explicar o que tinham observado nas redacções. Na opinião destes académicos o jornalista funcionava como uma espécie de guarda do portão, que apenas deixava passar para o jornal a informação que lhe interessa.
No entanto, mais uma vez se percebeu que este tipo de explicação simplista não permitia entender a complexidade que envolve a produção de notícias. Surgiu então, já na segunda metade do século XX, o conceito de newsmaking, segundo o qual a produção de uma notícia envolve uma série de factores, que todos juntos, influenciam o produto final. Entre estes factores contam-se as questões logísticas e burocráticas, a lógica organizacional, a falta de tempo, a necessidade de tornar a notícia vendível e, principalmente, o quadro de referências e de valores do próprio jornalista, que naturalmente influenciam a forma como este interpreta a realidade.
Estes factores, especialmente o factor tempo, que tem vindo a impôr-se aos outros devido à lógica dos directos e da informação ao minuto, têm como consequência que na maior parte das vezes os jornalistas não conseguem dispensar às notícias que escrevem, o tempo e a reflexão necessárias à produção de boas notícias. Esta falta de tempo leva-os a recorrer em demasia à informação de agências noticiosas e de organismos oficiais e a confiar em fontes cujas motivações são por vezes pouco correctas.
Daí que no momento em que toda a gente diz bem do Papa seja mais fácil simplesmente entrar na onda e reproduzir as mesmas ideias e as mesmas palavras, chamar os comentadores que já se sabe que aparecem de bom grado e não fazer muitas ondas, o que obrigaria a puxar pela cabeça numa altura em que não há tempo para tal, tal é a torrente de acontecimentos que supostamente é preciso cobrir.