2005/03/15

Crise anunciada... mas ignorada! 

Há já vários anos que ocasionalmente se ouvia falar no excesso de casas para habitação em Portugal. Fruto do (des)ordenamento do território que temos, construiu-se em demasia e descaracterizaram-se muitas das cidades portuguesas, para permitir a engorda de alguns construtores civis e autarcas afins.

Neste sentido, a notícia de que no quarto trimestre de 2004 a construção de casas novas continuou a decrescer, em sintonia com o que tem vindo a acontecer nos últimos dois anos, não surpreende. Talvez apenas surpreenda por ter vindo tarde de mais, pelo menos para muitas cidades e vilas portuguesas.

Muito provavelmente a queda não foi ainda mais abrupta unicamente devido ao hábito de comprar uma segunda casa, que ultimamente tem vindo a impor-se entre os portugueses. Por outro lado, o sector da construção civil tem sido relativamente alavancado pelos bancos portugueses, uma vez que cerca de 60% do crédito que estes concedem anualmente é para este sector (desde empréstimos às empresas, até à compra de casa).

É certo que o Estado português pouco poderia ter feito para impedir a existência de empresas, até porque, numa economia de mercado, a decisão cabe essencialmente aos consumidores: se há procura, há oferta. Mas uma coisa que o Estado poderia e deveria ter feito, desde a administração central até à administração local, era impedir a construção desordenada e promover o ordenamento do território e a transparência dos processos. Pelo menos desta forma, poderia ter garantido um crescimento mais sustentado do sector, uma vez que apenas funcionariam as empresas que prestassem um bom serviço e não aquelas que vivem dos "esquemas".