2006/03/26

De volta com acentos! 

Como o tempo corre! Estava eu entregue à preguiça do fim-de-semana, quando deparo com uma missiva do co-camarão Marujo. Só então percebi que desde antes do dia 3 de Março que não visitava a casa virtual de todos nós e que tão bonita mensagem de apelo à verborreia colectiva ficou sem resposta. Decidi deitar mãos à obra e desta vez com acentos, para que as subtilezas da nossa tão bela língua não se percam em interpretações dúbias sobre onde deverá ficar o acento, o c de cedilha ou o til (como se alguém se fosse dar ao trabalho de sequer ler o que eu escrevo, quanto mais tentar perceber onde é que eu quero colocar os acentos).

Quanto às minhas actividades de portuguesização dos ingleses deixem-me que vos diga que têm sido extremamente bem sucedidas. Onde antes se viam mãos imaculadas já começam a surgir mindinhos com unha grande para coçar a orelha; a polícia tem vindo a trocar o simpático chapéu tipo cartola e o ar prestável pela tríade boina-barriga-bigode e claro o ar bonacheirão; e melhor que tudo, os taxistas já não param nas passadeiras, andam mal dispostos quando o Benfica perde e acham que tudo, mas mesmo tudo o que existe de mal neste mundo é culpa do 25 de Abril! Que maravilha!

Brincadeirinha minha. Na verdade, se querem eu vos diga, aqui onde ninguém nos lê, não há países perfeitos e Portugal, com os seus defeitos e as suas virtudes, não é tão mau como infelizmente tantas vezes pensamos que é. Mas pronto, tenho que me deixar de lamechices. Acho que deve ser da falta de sol, faz soltar o meu lado mais sentimental...

Quanto à inactividade do Camarão do Rio deixem que vos diga que já houve momentos em que me sentia mais culpado. Depois li uma entrevista com o criador do Technorati, que caso não saibam é um motor de busca para blogs, na qual o dito cujo dizia que a maior parte dos blogs deixa de funcionar ao fim de três meses. Ou seja, estamos dentro da média e nada melhor do que estar dentro da média porque ser diferente dá muito trabalho! Eu que o saiba, que por ser tão bonito, inteligente, charmoso e cativante muito tenho sofrido… É assim a vida, tantas vezes tão injusta!

Só para finalizar e a título de curiosidade: muito provavelmente não sabiam que o nosso mui estimado Eça de Queiroz (sim esse mesmo, o que escreveu Os Maias, livro que vocês tiveram que ler no 12º ano o que foi uma chatice porque nessa altura tiveram que explicar à vossa professora que nunca tinham aprendido a ler) viveu em Newcastle durante cinco anos, como embaixador português. E de tal forma é uma honra para os ingleses, que o feito está assinalado com uma placa no número 52 da Grey Street, na qual se refere que se trata de um autor de dimensão Europeia e que os cinco anos passados em Newcastle estão entre os mais prolíferos da sua vida literária. É assim, anda para aqui um tipo macambúzio a pensar que ninguém nos liga e sem dar por nada deparamo-nos com estes pormenores agradáveis. Além disso, na casa onde o Eça morou quando cá viveu está neste momento um dos cafés mais agradáveis de Newcastle o que só contribui para valorizar ainda mais o espaço.

E pronto, antes que adormeçam mando-vos beijinhos e abraços. Até à próxima caros compatriotas.

2006/03/03

Porque o ócio me aborrece 

Devo confessar que estava a ficar demasiado preso à intensa ansiedade de vislumbrar as magníficas provas desse tal nevão que se diz ter deixado as suas marcas por terras de Camarão.
Assino também a confissão de não saber mais que centímetros de pele deste corpo que o Criador me ofereceu (anafado, dizem uns, largo de ossos, digo eu) poderia continuar a coçar sem fazer surgir o vermelho vivo de sangue, por isso, aflorou-se-me a ideia peregrina de pôr as falanges em movimento e rabiscar qualquer coisa, mesmo que estivesse completamente desprovida de qualquer interesse cultural e humano.

Porque não? Pensei... Porque não trazer de volta esse maravilhoso exercício que é falar desgovernadamente e não dizer seja o que for? Sim, porque os nossos estimados autores que anteriormente se dedicaram em dar sentido às palavras e ousaram até, imaginem, em dar opiniões conscientes e racionais, enveredaram por outros caminhos, não menos nobres ou de menor interesse colectivo, claro está, como é certamente o caso do nosso caríssimo co-Camarão, Pedro M., envolvido agora numa espécie de subliminar invasão em terras britânicas, segundo o próprio me confessou.
Pois é, ao que parece, o nosso elevado PM está completamente absorvido na sua missão de educar pequenas versões de lusitanos em propensão, coisa magnífica se pensarem bem nisso. Nascidos de pais britânicos, em terras de Sua Majestade, com todos os seus direitos e regalias, com todo o seu futuro britânico assegurado, mas completamente lusos, munidos de todas as características e aptidões dignas de um verdadeiro peninsular ibérico, em que o exemplo dado pelos fartos bigodes, que o próprio PM se encarrega de incentivar, demonstrando as diferentes técnicas de poda e aparo, é apenas uma mostra do maravilhoso trabalho que se está a efectuar neste campo.
Penso, no entanto, que numa fase de invasão posterior, algumas dificuldades poderão vir a surgir para este louvável empreendimento. Penso especificamente ao nível da fraca coloração da pigmentação britânica, mas segundo li num relatório secreto elaborado pelas forças envolvidas nesta missão, estão a ser criadas em laboratórios especiais, situados em parte incerta (diz que alguns deles são ali por cima de Alenquer), castas especiais de Palheto, esperando-se que as primeiras doses comecem a ser dispersas durante o próximo aniversário da Rainha, nesta ocasião celebrado com uma tradicionalmente britânica matança de porco nos jardins do Palácio de Windsor... Força PM! O mundo nunca se vai aperceber!
Mas outros deixaram marcas e apenas se questiona para quando o seu regresso. Para quando o retorno de Pedro R., do seu périplo, da sua epopeia de pregação da palavra e conversão por entre as vestais que deambulam pelos caminhos dessas selvas de pedra? Para quando o regresso de Sérgio B., a braços com o ingrato e impossível destino de se tornar no senhor absoluto da conquista e estratégia em campos de batalha seccionados, como que por artes mágicas ou verdadeiros senhores da topografia e mestres do GPS? Para quando e novamente a sagacidade de uma pena feminina nestes pergaminhos electrónicos, ainda que a sua minoria vigente lhe retire qualquer tipo de especial atenção ou mérito? Para quando o ressuscitar dos nado-mortos João C. e João P., abandonados à sorte da incubadora que alguém se esqueceu de ligar à corrente? Lembrai-vos companheiros, que o silêncio também é uma opinião, mas de nada serve num mundo de diálogo...